Um blogue em que os meus convidados são desafiados para uma entrevista em jeito de conversa de café
26 de Setembro de 2009

Aos 36 anos, o músico Gil do Carmo assume-se casado com "a tasca" que gere todas as noites.
O Speakeasy foi palco de uma conversa com música, recheada de profissionalismo e com um leve sabor a afectos. Fique nestas linhas e descubra porquê.

Rita Filipe – Quem é o Gil do Carmo?

Gil do Carmo – Quem é o Gil do Carmo? Como é que eu hei-de responder a isso… Sou um Lisboeta, português, de 36 anos de idade, que nasceu no meio da música e das artes, e que desde miúdo queria ser cantor, músico, compositor e estar ligado á música. (...)

RF- Porque é que aceitou uma entrevista para um blogue com uma Rita Filipe que não é uma jornalista conhecida?

GC – Porque adoro desafios, gosto de coisas diferentes, acredito nas pessoas, é cliente da minha tasca, e traz-me a garantia que é o conhecimento de ser frequentadora da minha tasca. Acho que mal não trará ao mundo fazer essa entrevista consigo, portanto é logo um bom princípio.

RF – Porque é que este espaço se chama Speakeasy?

GC – Chama-se Speakeasy… eu estive para abrir o Speakeasy com o Lauren Filipe. Estive na génese da abertura desta tasca. Coincidiu que estava a viver nos EUA na altura. E Speakeasy é um termo…como poderei dizer…não é só técnico, é uma expressão idiomática, no princípio do século passado em Nova Iorque, na altura da Lei Seca existiam mais ou menos 32 mil Speakeasys. O que eram os speakeasys? Eram teoricamente casas de chá, onde nas canecas e nas chávenas de chá, se servia álcool, todo tipo de álcool e de certa forma os speakeasys estão associados à génese do Jazz. Génese essa que foi, passo a redundância, a génese desta casa. Começou como uma casa de música ao vivo, onde também de preferência se pode comer bem, mas começou basicamente orientada pelo Jazz. E daí chamar-se Speakeasy.

RF – Nunca pensou em abrir um segundo Speakeasy?

GC – Já pensei abrir vários, (...) tenho é a falta de uma qualidade, estou ainda para conhecer alguém, que se chama omnipresença. (...) eu sou verdadeiramente casado com esta tasca. Farto-me de trabalhar e acho que de certa forma o que se vive, e a vivência desta tasca passa por mim. Porque foi assim que eu a fiz. Não sei se o espírito que se sente aqui ou fazendo um franchising, ou abrindo uma cadeia de speakeasys…supondo Funchal, Porto, Faro, Almancil, Coimbra, se iria manter.
RF – Como é que se tem vida pessoal quando se trabalha à noite?

GC – Não se tem vida pessoal. Não existe.

RF – Do meu conhecimento do Speakeasy, o Gil está cá todas as noites.
GC – Estou e não é só a questão das noites. Para existir a noite teve de haver o dia. E tem de haver a programação do dia, as reservas, a programação da música, a orientação do pessoal, a mise en place, etc etc etc

RF – A sua razão de viver, neste momento, é o Speakeasy?
GC – Não. A minha razão de viver é o amor que sinto pelas pessoas que me são próximas. E os momentos felizes que essas pessoas me transmitem, que me fazem viver e que podemos viver em conjunto. Porque sou eu e o José Cid. “Eu nasci para a música”.

RF – Imagine que amanhã a Câmara Municipal de Lisboa lhe fechava esta casa por uma razão qualquer. O que é que lhe acontecia?
GC – O António Costa primeiro que tudo tinha-me á perna. Ai dele que faça uma coisa dessas. Já quer fazer o disparate de fechar o trânsito do Cais do Sodré para aqui. Aproveito para dizer que acho isso um absurdo. Mas o que faria da minha vida? Ia dedicar-me á música a 200%. O que também tenho muitas saudades.

RF – O Speakeasy tem um site. Nunca pensou criar o Blogue do Speakeasy? O Facebook, o Twitter, Star Tracker. Qual é a sua relação com as redes sociais?
GC - Eu sou muito antiquado para a geração em que vivo. Detesto computadores, detesto essa chachada toda. Não quero que pareça pedante a minha resposta, de forma nenhuma. (...) Gosto de sentir o calor da forma da comunicação, gosto de ouvir a voz e de saber que tenho um interlocutor. A história do Facebook, não tenho nada a ver com isso, não tenho pachorra.

RF – Como é que escolhe as bandas que ouvimos aqui todas as noites?
GC – Por uma selecção muito rigorosa. Eventualmente o prestigio que os clientes dizem que o Speakeasy tem, e que é um caso à parte. Fico feliz por isso. Tenho seguido um critério rigoroso nestes 10 anos. Ou seja, posso dizer que comecei com 5 dias de música mais orientada pelo Jazz, dos 5 passei a 4, de 4 para 3, para 1 e agora só a anunciar de vez em quando. Contra mim falo. Tenho muita pena que as pessoas achem “muita giro”, porque a expressão é mesmo essa, não é muito, é “muita giro”. Ai o Jazz é “muita giro”. Mas ninguém sabe o que é Jazz. Ninguém ouve Jazz. Diana Krall é uma excelente intérprete, e é uma excelente pianista, mas o que ela hoje faz já não é Jazz. Para perceber o conhecimento de música em Portugal, se não se ensina música nas escolas não se pode ter um grau de exigência para com o público. Porque as pessoas ouvem a música que lhes toca o coração. E isso é o mais importante. Contudo, é impossível ter uma casa sustentada na base do Jazz. Tenho muita pena. E hoje a programação do Speakeasy vai do Fado ao Hard rock. Democracia total. Desde que não baixe um padrão de qualidade, que é o meu. Há coisas que não deixo que passem nesta casa.


RF – Para quando uma colectânea intitulada “Speakeasy” com as músicas das bandas que convida a virem cá?
GC – Estou para fazer isso há bastante tempo. Já deveria ter sido feito. De facto é a verdade. Breve, breve.



RF – Quando é que vamos ter o prazer de ouvir o Gil do Carmo a actuar na sua própria tasca?
GC – (...) Acho que não é por ser dono de uma tasca que vou obrigar as pessoas a ouvirem-me todas as noites. Gosto da sensação de que as pessoas vão-me ouvir inesperadamente, e quem cá está é que vai guardar essa memória. E participo porque canto qualquer coisa com alguém. É verdade que quando peguei no Speakeasy comecei por tocar uma vez por semana, depois passou a ser de 15 em 15 dias e depois uma vez por mês, até que parei. Tive necessidade de parar para fazer um novo disco, o que já não acontecia há bastante tempo. E a verdade é que não voltei a esse hábito de tocar no Speakeasy. Mas brevemente voltarei de vez em quando.

RF – O Speakeasy parece imune à crise. Não sendo barato, está cheio todas as noites. Como explica isto?
GC – Acho que as pessoas, ainda para mais em crise, procuram onde se sentem bem e onde podem sentir-se protegidas da selva que é o quotidiano e o mundo lá fora. (...)
Tem tudo de correr a 200% desde que o cliente entra até que sai, para que volte. A procura de afectos acontece cada vez que há uma crise. É importante que os clientes venham, mesmo quando têm menos dinheiro para gastar. E eventualmente em vez de consumirem dois consomem um. Roda mais a sala. Acho que é a procura desse afecto que faz com que o Speakeasy esteja cheio todas as noites.

RF – Sente que o Speakeasy tem um papel na divulgação das bandas portuguesas? É dos poucos bares com música ao vivo todas as noites.
GC – É o único. É uma responsabilidade que me está a dar e eu não a quero ter. Se fico feliz por isso? Fico feliz por ser um louco que ainda acredita e continua nessa árdua tarefa e nesse árduo trabalho. (...)

RF – Qual foi a pergunta que nunca lhe fizeram à qual gostaria de responder?
GC – Não faço ideia… Como é que Portugal vai estar daqui a 10 anos? Talvez… é uma excelente pergunta, tenho 36, gostava de aos 46 ter os meus filhos numa escola porreira, os filhos que terei, e ter a certeza de que vivo num país com excelentes condições para os educar, o que neste momento duvido.

leia a entrevista completa aqui

publicado por Rita Filipe às 19:21
Cara Rita,
Já lhe tinha escrito no TST que achava a sua ideia muito interessante e como lhe adicionou um toque pessoal, acho-a ainda melhor. Parabéns!

Muitos parabéns ao Gil do Carmo!
Sou um fâ incondicional do Speakeasy. Comecei a usufruir do espaço em 1996/97 e, como estava divorciado, sem ninguém e apetecia-me estar sozinho, o Speakeasy foi uma óptima terapia.
Quase todas as noites ía ou ao Speakeasy ou ao Metalurgica (era só atravessar a avenida).
Já levei aí bastantes amigos e conheci bastante gente com realce para a minha actual mulher e o actor John Malkovich.
Já aí organizei eventos para apresentação de um sistema de reservas de companhias aéreas e para uma revista alemã.
Entretanto, há 5,5 anos vim viver para Vilamoura e nunca mais aí fui (shame on me) mas continuo a divulgar o espaço a muita gente cá em baixo, em especial a estrangeiros que adoram Jazz.
Desculpem isto ser quase uma entrevista mas a verdade é que adoro o Spaekeasy!
Abraços
Luis Santos Francisco
teste a 4 de Outubro de 2009 às 07:26
Obrigada Francisco! O Speakeasy é de facto um espaço diferente. E foi nessa perspectiva que fui conversar com o Gil do Carmo. Há quem o conheça como cantor, mas quem frequenta o Speakeasy conhece o bom trabalho que ele tem feito como empresário nos últimos 10 anos.
Rita Filipe a 4 de Outubro de 2009 às 08:42
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