Um blogue em que os meus convidados são desafiados para uma entrevista em jeito de conversa de café
21 de Novembro de 2009

 Está habituada a gerir a sua vida ao minuto. É mãe, mulher, profissional de sucesso. A editora da Revista Exame acaba de lançar um livro com um título sugestivo. "O homem certo para gerir uma empresa é uma mulher" é o seu mais recente projecto.

 

 

 Acho que as mães conseguem ser melhores gestoras do tempo. 

 

Este livro não é só para presidentes e directoras gerais. Este livro é para todas as mulheres que têm o sonho de ter o seu projecto. Seja ele pessoal, profissional, por conta de outrem ou por conta própria.

 

Rita Filipe – Quem é a Rosália Amorim?

 

Rosália Amorim – É uma mulher que sabe o que quer (risos). Que tenta manter a sua simplicidade e genuinidade, mesmo nos trabalhos mais complexos como escrever um livro. É uma mulher que tenta dar alma àquilo que faz e àquilo que escreve.

 

RF – Como é que faz a gestão de uma carreira e de uma vida familiar, uma vez que é casada e tem dois filhos?

 

RA – Estes dois lados da nossa vida andam sempre par a par, tal como os carris dos comboios, sempre em paralelo, portanto são indissociáveis. Por vezes cruzam-se a aí é preciso haver alguma gestão moderada das prioridades e do tempo que se dá a cada um dos lados. As entrevistas que fiz para este livro comprovam isso mesmo. É possível uma mulher ter um cargo mais ou menos executivo, depende da hierarquia da empresa, e ter uma vida normal, com casamento e filhos. A maioria das entrevistadas é casada e teve filhos e têm uma vida familiar feliz. Acho que qualquer uma de nós que não seja feliz e não esteja realizada, não desempenha bem o seu trabalho. Depois há outra coisa interessante. Acho que as mães conseguem ser melhores gestoras do tempo. Porque têm de gerir ao minuto, ao segundo, até na minha equipa vou vendo que à medida que as pessoas vão sendo mães também se tornam melhores gestoras do tempo. Mais atentas, mais sensíveis, mais atentas ao pormenor.

 

RF – Porque é que “O homem certo para gerir uma empresa é uma mulher”?

 

RA – O título é uma forma de chamar a atenção para o assunto e para a falta de igualdade que existe entre os dois sexos no nosso país. Quando em Portugal temos dados como por exemplo, os administradores do PSI-20, em que apenas 4,8% são mulheres, em 418 administradores, acho que só esse número merece um livro. É incrível como são tão poucas as mulheres no topo das organizações. (...) Acho que a mulher pode ser o homem certo na medida em que tem determinadas características que alguns homens também têm mas que as mulheres poderão aproveitar melhor. Como por exemplo actuar em multitasking e efectuar várias tarefas ao mesmo tempo, e poder explorar melhor aquilo que o povo chama o sexto sentido, mas que ao fim ao cabo é a inteligência emocional. Essa inteligência emocional permite ter sensibilidade, ler os sinais da empresa, ler os sinais da sua equipa, ter uma visão periférica e de helicóptero, também para apreender tudo e tentar resolver as situações mais caricatas e difíceis com bom senso. (...) Porque é preciso provar em dobro. As mulheres estão muito mais expostas.

 

RF- Sentiu isso ao longo da sua carreira? Por ser mulher teve de provar em dobro?

RA – Quando entrei no jornalismo os homens mandavam sem dúvida, tanto na rádio comercial onde comecei, como na Exame. A maior parte dos editores também eram homens. As mulheres eram apenas duas, sempre vistas como as meninas bonitas que estavam ali. Um bocadinho as flores que adornam a redacção. Quando passei à segunda era da Exame com uma directora mulher, e que eu própria passei a editora, achei que havia aqui alguma evolução de mentalidades, provando o contrário daquilo que se pensa. O jornalismo económico também é feito por mulheres. E se entrarmos na redacção do Expresso também há muitas mulheres. Há 10 anos atrás as mulheres eram vistas como adorno e têm vindo a afirmar-se cada vez mais pela sua competência. Não por cotas!

 

RF – Defende que as mulheres devem chegar ao topo por mérito e nunca por cotas.

RA – Chegar ao topo por meritocracia acho que é indiscutível e isso está muito patente no meu livro. Não me imaginaria enquanto mulher, gestora, ou política quiçá, a ocupar um cargo por exemplo no parlamento por uma questão de percentagem. Isso para mim seria um atestado de menoridade, de falta de inteligência. Não consigo aceitar essa teoria das cotas. Sei que podemos levar mais tempo a lá chegar, sei que podemos ser mais questionadas. Os homens provavelmente não vão gostar de ver as mulheres a ocuparem os lugares e portanto vão fazer uma batalha duríssima. Mas aí os nossos argumentos têm de ser competência, demonstração de resultados, inteligência emocional, e trabalho, trabalho, trabalho. Trabalhar como os homens e não se resguardar no facto de ser mulher, ser sensível, ser mãe, não tenho tempo… não tenho de tentar fazer melhor nas duas valências, em casa e no trabalho, com a arma da competência, que é a nossa única arma infalível.

 

RF – Falando de estilos de liderança, no seu livro diz que mulher é Golfinho, homem é tubarão. Esmiuçando este conceito o que temos?

 

RA-  Esmiuçando  o conceito, julgo que o homem ainda actua muito como um tubarão. No sentido de ser um predador. Ele actua de forma muito mais agressiva. A mulher é muito mais comunicativa e está mais atenta à sua equipa. Tendo em conta as teorias da evolução da gestão, que dizem que a mulher tem estas competências e que cada vez mais é preciso trabalhar em equipa para ter bons resultados, julgo que o golfinho pode evidenciar-se por aí. No entanto quando analisamos estas mulheres executivas que estão no topo reparamos que algumas delas, aqui e ali ao longo da sua carreira, tiveram um quê de tubarão. Porque é quase impossível estar neste meio sem ser atingida pelo mimetismo. Quando se está no meio executivo é preciso às vezes ser dura como eles são. Ser predadora como eles são. Impor a sua presença, a sua liderança, de forma mais ou menos natural, mas com uma presença muito forte. E portanto esse mimetismo às vezes dá-lhes um quê de tubarão. Acho que estas mulheres que estão no topo hoje em dia são menos afectadas por esse mimetismo. São menos mulher-homem. Há menos aquele preconceito de que quem está no topo tem de vestir fato sempre cinzento ou preto, cabelo muito curto à homem, e não usa brincos nem pulseiras. Há menos esse efeito e a mulher assume-se mais feminina.

 

RF – Dê-me uma boa razão para o comum leitor comprar este livro.

 

RA-  Estive recentemente no programa da Fátima Lopes, na SIC, e ela dizia, e muito bem, que este livro não é só para executivas. Este livro não é só para presidentes e directoras gerais. Este livro é para todas as mulheres que têm o sonho de ter o seu projecto. Seja ele pessoal, profissional, por conta doutrem ou por conta própria. Sobretudo é um livro que tenta ter um discurso optimista e tenta mostrar que somos capazes. Mesmo quando os obstáculos são terríveis, mesmo quando é preciso quebrar os tais tectos de vidro que não nos deixam subir na organização, sejam os homens, seja o preconceito da família que não ajuda. Para as mulheres o livro pode ser uma arma, quase que um empurrão para continuarem a lutar por aquilo que pretendem. Para os homens, como dizia o Nicolau Santos, no texto de apresentação do meu livro, este pode ser um manual para nos aprenderem a conhecer melhor.

 

RF- A Rosália já escreveu um livro, já teve não um mas dois filhos. Qual é a árvore que lhe falta plantar?

 

RA- Já plantei várias. Vários pinheiros. Já tinha feito outro livro a meias com a Rosa Lobato Faria, que foi um projecto completamente diferente. Este é o meu primeiro livro a solo, e nesse sentido quero plantar outros livros a solo. Ainda não sei bem o tema, sempre à volta da economia certamente, não tem é título ainda.

RF – Se não fosse jornalista o que gostava de ser?

 

RA-  Escritora. Tive a paixão do jornalismo muito cedo, porque aos 16 anos fui convidada para fazer rubricas de cinema na rádio local. Sou do Cartaxo e comecei na rádio de lá. Convidaram-me para ao Sábado fazer rubricas sobre cinema, analisar e recomendar filmes. E gostaram imenso da minha voz. Eu fiquei fascinada com a ideia. Nunca tinha pensado em rádio. Quando comecei com as rubricas de cinema fiquei fã da comunicação, do ambiente da rádio, e do jornalismo. Ainda estava a acabar o secundário convidaram-me para a redacção. Fui fazendo um semanário e de repente comecei a chefiar a redacção. Tinha 17 anos e já estava nessas funções. E daí para a comercial em Lisboa foi só o momento de passar para a faculdade, e fui integrada na comercial que é uma escola fantástica. Portanto o jornalismo sempre esteve muito presente. E depois a minha mãe recorda sempre que quando saíamos para qualquer fim-de-semana, tinha eu 10 ou 12 anos, eu ia sempre com um bloco e com uma caneta. Acho que nunca contei isto em nenhuma entrevista. (risos) E tomava nota de tudo. Acho que a minha veia de repórter vem daí.

 

RF – A internet, a blogosfera, as redes sociais mudaram a forma como se comunica hoje em dia?

 

RA- Completamente, só o facto de eu estar aqui consigo, é um tipo de jornalismo diferente, personalizado, desta nova era do 2.0  o que mostra o quão diferente está o mundo em termos de comunicação. Acho que é impossível não estar. Se se quer comunicar, se queremos estar ligados ao mundo é impossível não estar na 2.0. Eu própria tenho dois blogues que vou alimentando consoante o tempo me permite. Um no site Exame/Expresso outro que é pessoal. As pessoas comentam muito o facto das coisas serem divulgadas online o que não acontecia até há uns anos atrás. E em termos de negócio da comunicação, que é onde estou, acho que é absolutamente complementar estar no papel e na internet. Só estando nesses dois meios, conseguimos atingir gerações diferentes com expectativas diferentes.

 

  brevemente uma foto minha com a Rosália Amorim

 

publicado por Rita Filipe às 16:35
Oi Rita! Parabéns por este blog! Adorei a entrevista com a Rosália Amorim, e a forma como você a conduziu. Já virei sua fã! Nunca desista dos seus sonhos!
Beijinhos
Patrícia Anastácio a 22 de Novembro de 2009 às 15:28
"os administradores do PSI-20, em que apenas 4,8% são mulheres, em 418 administradores, acho que só esse número merece um livro" realmente dá que pensar. Se já se sabe que as mulheres dominam nos bancos das universidades cokmo se explica que haja tão poucas gestores nas principais empresas do país?
stiletto a 24 de Novembro de 2009 às 14:31
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