Viveu em Atenas e Amesterdão, mas é Lisboa que a seduz. Assume-se como viajante na sua cidade. Escreve para que outros possam conhecer a sua Lisboa.
Lisboa é uma mulher que queremos ter por amante. Não é uma mulher perfeita, mas é uma mulher que nos leva à loucura nas esquinas mais esquecidas.
Rita Filipe – Quem é a Sancha Trindade?
Sancha Trindade - É uma viajante da cidade, que tem uma missão: a de partilhar Lisboa e é uma pessoa com muito orgulho no seu país. Com perfeita noção da riqueza cultural dos nossos poetas e da nossa literatura e que se predispõe todos os dias a fundir-se com a cidade para enaltecer essa partilha. Acima de tudo para elevar a auto-estima dos portugueses. Acho que esta é a grande missão.
RF – Como é ter a cidade na ponta dos dedos?
ST - É um privilégio muito grande e um sentimento que me ultrapassa todos os dias. Que me surpreende e que me faz todos os dias chegar à noite e para além das cinco coisas que eu aprendi a agradecer, agradeço a minha vida, a qual sinto como um enorme privilégio.
RF – Como descreveria Lisboa a um estrangeiro que não conhece a cidade?
ST - Lisboa é uma mulher que queremos ter por amante. Não é uma mulher perfeita, mas é uma mulher que nos leva à loucura nas esquinas mais escondidas e fascinantes. Consegue ser uma cidade elegantemente sexy, mas muito misteriosa. Acho que é uma cidade que queremos ter como amante para o resto da vida, uma cidade que reúne as qualidades mais fascinantes de uma mulher e uma da mais importantes: o facto de ser muito feminina.
RF – Porque é que escolheu o Café Royale como palco da nossa conversa?
ST – Este foi um dos sítios a que mais me agarrei quando voltei da Holanda e da Grécia. Voltei com medo. Quando se está 4 anos fora de Portugal... O Royale foi o primeiro café que me surpreendeu no novo Chiado. Nós temos uma pastelaria fascinante, que põe a pastelaria francesa a um canto. Mas os nossos cafés não são bonitos e isto é Portugal, um diamante em bruto. Temos uma pastelaria fascinante e depois temos esplanadas com cadeiras berrantes a publicitar refrigerantes. Felizmente isso está a acabar. E este foi um dos cafés que me mostrou que Lisboa estava mesmo a mudar. Na altura uma série de guias e revistas elegeram Lisboa como um dos melhores destinos da Europa e nessa visão do mundo esta morada é transversal. Aqui encontram-se pessoas clássicas, originais, eruditas, alternativas, sonhadoras e tudo o resto. Gosto desta transversalidade.
RF – O que é que Lisboa ainda não tem?
ST – O drink after business. Lisboa ainda não tem a continuidade do dia. Lisboa ainda não tem o encontro entre os viajantes.
RF – Qual é a cidade da sua vida?
ST – É Lisboa. Se não fosse Lisboa, escolhia Atenas. É a cidade mais feia do mundo, mas foi onde aprendi a ser feliz. Atenas tem esquinas maravilhosas e os gregos vivem a vida e a partilha como ninguém e lembram-me o Porto: quando fazem, fazem muito bem. Farto-me de dizer isto, o Porto dá dez a zero a Lisboa em muita coisa e o que fazem é com muita pujança e paixão. Mas respondendo à pergunta é claro que a cidade da minha vida é Lisboa.
RF – O que é que Lisboa tem de tão especial?
ST – É uma cidade que me continua. Que tem o Tejo, que tem muita história. Eu cresci aqui, neste bairro. Lembro-me de descer o Chiado de mão dada com os meus pais e ir à Ferrari ao Sábado de manhã beber um batido de morango e comer as bolachas de framboesa que imortalizaram a montra que infelizmente desapareceu com o incêndio. Ainda hoje guardo com carinho as recordações do Chiado antigo.
RF – Como é que se define profissionalmente?
ST – Costumam arrumar-me na gaveta dos jornalistas, mas alguns dizem que sou cronista, outros colunista. Acho que sou simplesmente uma viajante que partilha a sua cidade.