Um blogue em que os meus convidados são desafiados para uma entrevista em jeito de conversa de café
04 de Abril de 2010

 Foi entre aulas e múltiplos compromissos que encontrou tempo para esta conversa. É adepto do Sporting de Braga. Passa a hora de almoço a nadar no mar. Conhecêmo-lo da televisão mas é no ensino que se sente no palco.

 

 

Ser-se jovem hoje significa preparar-se para ter várias actividades profissionais ao longo da vida. (...)E têm de estar preparados para que a única constante da sua vida seja a mudança.

 

 

Rita Filipe – Político, comentador, professor. Quem é Marcelo Rebelo de Sousa?

Marcelo Rebelo Sousa – Professor antes de mais, é essa a minha vocação. Esse foi o meu desejo durante toda a vida, concretamente professor de direito da Universidade de Lisboa. Sou essencialmente professor. Era o que o meu pai gostava de ter sido e o padrasto não quis que ele fosse. Acabou por ir para Medicina. Vinguei o sonho do meu pai e por outro lado fui sensível à influencia de muitos amigos do meu pai que eram professores de direito e que eu conheci desde miúdo. Enquanto pedagogo, enquanto alguém que comunica mas que investiga, por extensão acabei por ser muito cedo também comunicador. Quando? Como? Trabalhando em jornais desde a escola primária, depois sendo responsáveis em jornais no liceu, continuando a trabalhar em jornais nacionais ao longo da minha faculdade, e depois tendo essa actividade paralela, primeiro na imprensa escrita, mais tarde na rádio e nos últimos dez anos na televisão. Finalmente político também como um prolongamento da vocação pedagógica, sempre inesperadamente. Nunca planeei nada. O nascimento do PSD, deputado da constituinte, ulteriormente dirigente do partido, membro do governo, líder do partido. Resposta mais directa essencialmente professor.

 

RF – O Professor precisa de palco, de espaço mediático para viver?

MRS -  Não. Tenho um palco natural que é o do ensino. É um palco bem dimensionado. Dou aulas nos primeiros anos, o que quer dizer umas centenas largas de alunos com o muito trabalho que isso exige em termos de pontos escritos e de orais. E esse já é um palco adequado e humano em que é possível tocar as pessoas e conhecê-las. Os palcos que tive subsequentemente já não são de centenas mas de milhares de pessoas. São palcos mais difusos. As pessoas têm noção que são minhas íntimas e que me encontram na rua e falam como se me conhecessem muito bem. Depois pedem desculpa porque me conhecem bem mas eu não as conheço. Mas eu tenho de as tratar como se as conhecesse e estar disponível. É o preço que se paga pela situação em que a pessoa se coloca. Nessa medida não preciso de palco tão amplificado para ser feliz. Prefiro o palco comezinho de uma aula de mestrado ou doutoramento, que ainda é mais restrito são 10, 15 ou 20 pessoas.

 

RF – O Professor é considerado um opinion maker. Até que ponto vai a sua influência na vida politica?

 

MRS – Acho que é muito exagerada. Os chamados líderes de opinião, os comentadores são muito variados. Há comentadores na imprensa, na rádio e na televisão. Hoje há poucos comentadores na televisão. Há um empobrecimento do nível cultural e do debate político na televisão e portanto há muito poucos, mas já houve mais. Há muitos comentadores na televisão por cabo. A sic noticias tem vinte comentadores. Uma coisa que não percebo são os políticos que são comentadores ao mesmo tempo. Actuam politicamente e comentam-se a si próprios. Hoje tenho a noção que se deve separar isso, ou se actua partidariamente ou se é comentador. Em qualquer caso são muitos comentadores, a sua influência é muito dispersa. O peso que eu porventura possa ter decorre do facto de ser comentador há muito tempo. Sou o segundo comentador mais antigo de Portugal. Há só um que agora aparece pouco na televisão, que é o José Carlos Vasconcelos, ainda escreve na Visão, foi director de “O Jornal” , director do “ Jornal de Letras” , que é um homem que escreve antes do 25 de Abril, mas que aparece pouco em termos audiovisuais. Logo a seguir o comentador que faz comentários de forma ininterrupta desde os anos 70 sou eu. E portanto há uma habituação. Na televisão faço há 10 anos. Gostando ou não as pessoas habituam-se a ver e a ouvir a minha opinião. A debater os temas que eu levanto. Nessa medida posso ter alguma influência, não pelo que defendo mas o facto de agitar as águas.

 

RF – Muitas vezes é criticado por comentar de tudo um pouco. Como é que lida com essa critica?

MRS – É verdade que sou muito criticado por isso. Não é totalmente justa a critica, porque há coisas que não comento. Não comento cinema porque não sei. Não comento teatro. Comento pouco a música. Culturalmente comento livros porque estou um pouco mais à vontade. Há domínios técnicos especializados que não comento. Quando tenho de comentar matérias alheias aos meus interesses, que não é direito, politica ou economia, que não são problemas sociais ligados à política, isso obriga-me a um esforço de informação e de estudo. E portanto o que digo é sempre com alguma ressalva. Eu apurei, informei-me, os especialistas dizem isto… Parece ser um leque muito grande de temas, mas não é tão grande quanto isso.

 

RF- Passam-lhe dezenas de livros pela mão. Se tiver de escolher um livro qual seria?

 

MRS – Em várias fases da minha vida tive livros que me marcaram. Nem sei como há pessoas que têm um livro que marca a vida. Podia dizer que sou católico e portanto há um livro que me marcou especialmente toda a vida que é a Bíblia. Nesse sentido sim. Agora a cada fase da vida houve livros que me marcaram. Acabo por ser muito sensibilizado pelos livros que acabei de ler. Nas últimas semanas li a Biografia que a Maria Filomena Mónica fez do Fontes Pereira de Melo.

 

RF – O Professor foi um aluno exemplar, terminou Direito com 19 valores. Acha que os alunos hoje em dia são aplicados?

 

MRS – Acho que têm de ser. São é muitas vezes mal aplicados. Este regime de Bolonha que é semestral é uma corrida contra o relógio. O semestre tem 3 meses, durante os quais têm pontos, trabalhos, investigações, e exames. Começa logo a seguir outro semestre que são mais 3 meses. Pelo meio têm férias de Natal, Páscoa. A matéria é muito condensada. Os professores muitas vezes mantêm a matéria que tinham para a cadeira anual. Impingem a matéria num semestre. Por isso não é falta de aplicação. Eles trabalham muito.  Os jovens são muito menos maduros do que eram no meu tempo. Porque sabem mais coisas, têm muito mais informação, e têm menos tempo para digerir a informação. Quando chegam à universidade sabem o que nós não sabíamos. Que já miúdos sabem via internet e audiovisual. Mas não têm tempo para digerir tanta coisa.

 

RF – Temos jovens licenciados à procura do primeiro emprego demasiado qualificados. Em Portugal não conseguem trabalho e são obrigados a tentar no estrangeiro.

 

MRS – Temos aqui vários problemas e um deles é um problema de vocação. Há grandes diferenças entre ser-se jovem hoje e há 30 ou 40 anos. Porquê? Ser-se jovem hoje significa preparar-se para ter várias actividades profissionais ao longo da vida. Eu fui educado para ser uma coisa ao longo da vida. Professor de Direito toda a vida. E na Faculdade de direito de Lisboa, perto do sítio onde vivia a minha família. E isso acabou. A pessoa vai ter várias actividades profissionais ao longo da vida e nem imagina quais. Seja no mundo, na Europa ou em todo o país. E para isso há coisas que são fundamentais. Que não é necessariamente o empinar muito ou memorizar. Embora seja útil. Em primeiro lugar saber resolver problemas equilibradamente. Segundo lugar, saber comunicar. No séc. XXI quem não souber comunicar vai ter uma dificuldade imensa, inclusivamente pelas novas tecnologias da informação. E saber localizar no tempo e no espaço. É uma coisa que dificilmente os jovens sabem. E depois ter alguns valores de base à luz dos quais sabem optar. E têm de estar preparados para que a única constante da sua vida seja a mudança. O que é uma perspectiva de crise, vão viver permanentemente em crise. É uma utopia a ideia de que a vida é uma estabilidade. A vida é uma instabilidade crónica. E aquilo que se considerava como felicidade, que era a pessoa ter uma carreira feita numa empresa, ou no mesmo sítio, hoje é sinal de falta de imaginação, de falta de coragem e de iniciativa. Tomada a questão assim, o primeiro problema é saber qual a vocação inicial, depois vão mudar. Tenho falado com imensos jovens que não fazem ideia por onde começar. Nem eles, nem os pais, nem os namorados, nem os amigos. As pessoas falam pouco umas com as outras e consigo próprias. E depois não se conhecem. Acham que o problema se resolve escolhendo um curso. Ora o curso é um instrumento, é um meio, não é um fim. Depois o que acontece é que escolhem cursos errados. Mais valia as pessoas conhecerem-se. Saberem exactamente por onde querem começar. Que tipo de aptidões e limitações têm, onde é que as vão exercitar e o que é que as torna mais felizes. Mesmo os que acertam na vocação acabam por não ter lugar em Portugal. Para os jovens de hoje a sua sociedade é o mundo. Tenho pena que isso aconteça, mas muitos jovens têm mesmo de procurar trabalho lá fora.

 

 

RF – A blogosfera é uma nova forma de fazer jornalismo?

MRS- É. No dia em que houver uma ligação mais íntima entre a televisão e a internet, o que inevitavelmente vai acontecer, alguns conteúdos da blogosfera serão partilhados pela televisão. Neste momento isso ainda não aconteceu devido à crise. Sobretudo em Portugal a crise travou o crescimento da blogosfera. Se eu tivesse que prever, acharia que nas últimas eleições a blogosfera teria sido decisiva e não foi. E a explicação é o dinheiro. Não o facto de ter um computador ligado à internet, mas ter vida para viver na blogosfera. Gasta-se tempo e o tempo é dinheiro.

 

 

 

publicado por Rita Filipe às 22:09
Bom dia,

Parabéns pela entrevista!

Aproveitámos para colocá-la em destaque na nossa homepage, em http://blogs.sapo.pt

Boa continuação!

Pedro
Pedro a 5 de Abril de 2010 às 11:12
Eu tive um sonho. Sonhei que o Estado Português era um Estado Democrático.

O Estado... esse Grande PATRÃO
Os ''empregados do Estado'' em Portugal existem exclusivamente para melhor enganar, aldrabar, vigarizar, desviar e roubar o próprio PATRÃO (Estado) em completa legalidade, impunidade e imunidade pois há que precisar que tudo na Constituição Portuguesa se encontra reunido de uma forma ''magistral e exemplar'' para favorecer, beneficiar e proteger em exclusivo os ''empregados do Estado'' e em nada o PATRÃO.

Os ''empregados do Estado'' são todos aqueles que recebem uma remuneração em troca de um suposto trabalho na chamada função pública. Ex. : ''Presidente da República'', ''Primeiro Ministro'', ''Ministros'', ''Secretários do Estado'', ''Deputados'', câmaras, finanças, bancos do Estado, justiça, militares e etc. ! Devo acrescentar que mais de 20 por cento da população ativa trabalha na função pública sem querer com isto tirar o mérito de quem realmente trabalha.

O engraçado e mais estranho e estúpido nisto tudo é que o PATRÃO (Estado) é o próprio POVO, que não tem poder de PARTICIPAÇÃO DIRETA E ATIVA absolutamente algum nas decisões da República e nunca terá ao contrário do poder absoluto de todos os nossos ''dirigentes Políticos'' que sempre governaram (se) com mãos de ''ditadores de nova geração'' e cara de Anjos no próprio PATRÃO (POVO) (chamam na Constituição de participação direta e ATIVA do povo na vida política á única e miserável votação a que o povo tem direito de 4 em 4 anos), porque a 3° Constituição feita em 1976 ''magistralmente'' elaborada ainda com influência Salazarista não permite ao povo de ter uma verdadeira participação ATIVA ao contrário do que está escrito, transformando uma lei fundamental do poder Político do povo numa completa e verdadeira PALHAÇADA DE PURA HIPOCRISIA !!! A ver na internet >>Constituição da República Portuguesa – Assembleia da República<< artigo 109.°.

Difícil de se encontrar PATRÃO mais sem voz, silenciado, condescendente, ignorante, inculto, generoso e cego. Também por isso é que sempre se disse que nunca houve, não há e nunca haverá em Portugal melhor emprego que o de ser ''funcionário do Estado (povo)''.

CONCLUSÃO : Temos que acabar completamente e radicalmente com esta Constituição porque é também economicamente impossível uma empresa funcionar e alimentar toda a gente quando esta tem 20 patrões para 80 trabalhadores (escravos) e criar uma nova República de raiz ou adotar um sistema político estrangeiro que se saiba bem funcionar para todos como é o caso por exemplo do sistema político Suiço, onde o povo tem PARTICIPAÇÃO DIRETA E ATIVA pois é em diversos casos em leis e decisões do País solicitado a votar e onde qualquer cidadão Suiço se pode individualmente apresentar ao governo não havendo para isso a obrigatoriedade de se pertençer a um partido político ou a formá-lo. E mais !!! Qualquer cidadão Suiço segundo e seguindo a Constituição pode congelar qualquer lei apenas pelo Parlamento aprovada e levá-la diretamente á votação do povo não havendo para isso como em Portugal Estado de M... a necessidade de ser submetida ao parlamento (quartel general da ''nova ditadura'') para este analisar e decidir se vai ou não á votação popular, pois a Constituição Suiça dá ao povo o direito de ter sempre e em todos os casos a última palavra. A ISTO SIM SE CHAMA UM ESTADO DEMOCRÁTICO !!!

ASSINADO : Mando Zarpa

Post.S. Quanto mais se enfraquece um Povo mais se Fortalece e Enriquece um ''Político''.
A voz do povo é a voz de Deus. Povo Português, levantai a voz ! Viva a revolução ! ''Ladrões'' todos em prisão !
filiperamos67 a 9 de Dezembro de 2013 às 15:54
A PRIMEIRA BEATIFICAÇÃO EM PORTUGAL – BEATA RITA AMADA DE JESUS


Ao contrário do que afirmou o Comentador da TVI, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, a 1ª Beatificação ocorrida em Portugal foi a de Beata Rita Amada de Jesus, em 28 de Maio de 2006 na diocese de Viseu, e não a da Beata Maria Clara em 21 de Maio 2011. Esta afirmação deste prestigiado comentador foi feita na TVI por altura da Beatificação de Maria Clara da Congregação das Franciscanas Hospitaleiras. A falha talvez se deva ao facto da diferença de visibilidade dada pelos meios de Comunicação Social. A Irmã Maria Clara talvez porque pertence a uma Congregação mais conhecida e com mais expansão em Portugal teve um impacto maior. A Madre Rita Amada de Jesus, fundadora do Instituto Jesus Maria José tem mais visibilidade no Brasil do que em Portugal. Razões porque já em várias Paróquias numa Região do Brasil a elevaram a Padroeira. (No Blogue: http://beataritamada.blogspot.com

António Mendes Pinto a 25 de Julho de 2011 às 22:49
Perguntar ao honestíssimo comentador da nossa praça (descendente da honestíssima família rebelo de sousa ) se o honestíssimo durão barroso meteu - a martelo - o seu inteligentíssimo filho no Banco de Portugal , sinceramente, é ser-se possuidor duma mentalidade verdadeiramente maléfica e até não temeroso a deus nosso senhor; Foi um pecado para o qual o nosso pai do céu, na sua imensa bondade, não poderá perdoar!...
ANÃO a 17 de Agosto de 2014 às 21:46
Muitos parabéns por esta entrevista excelente, no meu ponto de vista. Perguntas bem feitas que mereceram grandes respostas com coisas que ainda não conhecia do professor.
Cláudia Pereira a 15 de Fevereiro de 2015 às 14:06
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Enfermeira por um feliz acaso, comunicadora por paixão. Procuro um lugar ao sol no mundo do jornalismo...
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Muito bem!!!Fiquei agradavelmente surpreendido pel...
Parabéns por ter criado um blog tão interessante! ...
Bom dia,Parabéns pela entrevista!Aproveitámos para...
Oi Rita, tudo bem? Já tenho saudades... de você lá...
Uma grande pessoa, um amor de rapaz, um sorriso co...